quinta-feira, 9 de julho de 2009

PaLAvrA da AUTOra

Só havia escrito para o público infantil uma vez, em coautoria com amigos, para um projeto escola. Uma dinâmica, um processo, forma e conteúdos muito diferentes do que me exigiu "Sofia embaixo da Cama".
Sete atores, a proposta de montar um infantil de qualidade, idéias variadas e era preciso encontrar uma corda na qual eu me agarraria e faria surgir toda a história que iríamos contar. Entre tantas palavras ditas no início do processo do workshop, a que mais me tilintou o crânio foi algo mais ou menos assim: "Eu sempre achava que tinha um mundo embaixo da minha cama". Eu também!!! No mesmo dia, no mesmo ensaio/aula/processo me surgiu o título de um texto que nem existia ainda "Sofia embaixo da Cama" [obviamente eu nem sabia que esse seria o título, eu ainda não sabia de quase nada]. Resolvi seguir a minha intuição, até porque sempre acreditei que o feeling faz parte do processo artístico, e no meu caso sempre serviu como equilíbrio ao academicismo e a teoria que tanto me fascinam [em partes rsrsrsrs].
Eu tinha duas informações: O mundo embaixo da cama e a Sofia. Daí pra frente foi mais ou menos um mês de tentivas e erros, rabiscos e apagadas, mais rabiscos, elucubrações, até chegar nos personagens. Eu não posso considerar que tenha um processo fixo de escrita, eu sigo mais ou menos como sigo meu processo de atriz, depende do diretor, do grupo, do tema, da intuição, assim acho que o resultado acaba dependendo um pouco dele mesmo. Sabe? Enfim...
O fato é que eu tinha sete atores aos quais deveria designar papéis. E comecei a pensar o texto pelos personagens. Sete personagens que vivessem embaixo da cama. A primeira a surgir, claro, foi a própria Sofia. Uma menina que me veio destemida e cheia de imaginação, uma menina que sonhava muito. Então me veio a idéia de um mundo dos sonhos, um mundo de personagens criados por sonhos de crianças, aquele lugar onde tudo se mistura e vira o que quiser virar, onde o escorredor de macarrão vira um capacete espacial, e a vassoura o cavalo do príncipe. O príncepe me veio também, mas não O Príncipe, e sim O Príncipe Sapo, que depois virou o Príncipe Sapo Ezequiel, acho que na tentativa de sair dessa sinuca de bico que nos colocam os contos de fadas. Então aqui nessa minha história, o príncipe ia ter seu lado sapo sim, e não seria nada valentão, ao contrário, seria um herói com medo. Depois disso veio todo o resto. O Ladrão que roubava os sonhos das crianças, porque não tinha capacidade de sonhar. Seu amigo cientista maluco, que desejava ter seu talento reconhecido. Cabrummmm! Assim num toque de magia veio a D. Traça, que seria a grande mentora desse povo sonhador, o pinguim metido a artista: epa, epa, epa!!! Metido não, O pinguim ARTISTA!!!! Viria o bicho papão! Buh, rsrsrsrsrs, mas podem apostar que esse bicho papão não tem a ver com aquele que contam pra assustar criancinhas, não, não. Estamos no mundo dos sonhos, lembram? Aqui tudo pode acontecer!
E assim surgiu essa história, que na verdade vai sendo redirecionada a cada ensaio. E eu to achando esse processo aberto um barato. Talvez os dramaturgos clássicos achassem isso a morte, mas no mundo de hoje, acho a melhor forma de fazer teatro, essa, em que a gente vai se adaptando ao que o ator traz, ou não traz, ao que o diretor acha ou não acha. E eu vou lá e troco a fala, e corto, e trago opções novas, e pode ter certeza que a cada cena levantada, o texto ganha uma amplitude muito maior, do que seu o mativesse preso só ao meu achismo, só a ponta do meu lápis [no caso à minha tecla]. É desse jeito que faço minha estreia nessa arte de escrever para crianças. Trabalho árduo, diferente do que muitos pensam. A maioria, quando pensa em teatro infantil faz: URGH!!! E eu nem culpo, porque o teatro infantil é tão jogado às traças muitas vezes [ops, a D. Traça teria mais cuidado rsrsrsrs] que realmente acabou ganhando uma imagem de arte menor, menos glamurosa, menos artística, mais fácil. Vai lá e cola um papel crepon na cabeça do garoto, coloca uma luzinha, faz uma caretinha e está pronta a "pecinha". Pra mim não [aliás pra gente]. Encarei esse, como, possivelmente, o mais difícil de todos os que já escrevi. Pelo tamanho da responsabilidade que se tem em apresentar um espetáculo para crianças, e fazer parte do juízo crítico que elas terão sobre o teatro ao longo da vida, quem sabe até influenciar este juízo.
É fazendo teatro pra criança que a gente garante a plateia de amanhã. Mas mais que isso, é fazendo teatro de qualidade pra criança, que a gente garante o teatro de amanhã. Tem que levar a sério, elas são muito mais atentas e astutas que uma plateia adulta. É por isso que não vejo a hora de colocar meu texto diante delas, daí virá o último e derradeiro palpite sobre ele: se ele toca ou não; se ele chega ou não; se ele emociona ou não. E tenho certeza que será o palpite mais sincero que eu jamais poderia conseguir de qualquer crítico por aí!!!!!
Merda pra gente!

Palavra da autora.
[Marina Monteiro]

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